quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Camille Desmoulins, Um caso de RMVP

Por Mauricio Mendonça (2002)

No livro da autoria conjunta de Hermínio C. Miranda e de Luciano dos Anjos, chamado Eu sou Camille Desmoulins é apresentado um fantástico caso de Regressão de Memória. Nele temos uma experiência de RMVP onde o co-autor L.A. reconhece-se como Camille Desmoulins, um dos líderes da Revolução Francesa. Nesse processo muitas informações foram registradas em fita no momento do transe e com um excelente trabalho de pesquisa histórica posterior pode-se validar essas informações.

O método para obtenção do transe utilizado foi a aplicação de passes magnéticos com sugestões e foram realizadas cerca de dez seções, com aproximadamente uma hora cada uma. O sujeito relata que no momento do transe ficava “inconsciente” ou seja, não tem lembrança do que se passou. Vejamos o que ele diz com relação às suas sensações durante o início do processo. Vejamos como ele descreve o procedimento:
__Fechei os olhos e me estendi na poltrona, procurando relaxar todos os músculos do corpo. Até as pálpebras, procurei deixá-las como mortas. Ouvia a voz monótona do Hermínio, enquanto fixava o interior negro de minha própria visão. Depois de 10 minutos, comecei a ficar ligeiramente tonto e sentir a total paralisação dos músculos e tendões. A tonteira foi aumentando e a respiração tornando-se cada vez mais difícil. Eu ofegava. A cabeça passou a girar cada vez mais rápida. As mãos e os pés começaram a formigar ligeiramente; e depois, mais e mais. O formigamento foi subindo e, na medida em que atingia outras partes do corpo, deixava as anteriores anestesiadas, completamente insensíveis. Minha ausência de controle psíquico era total… e após isso perdi a consciência.
Passada essa fase de indução, seguia a conversação buscando extrair as informações. Nas primeiras seções, apesar do transe profundo os diálogos não foram muito produtivos, isso certamente pela “falta de prática“ do sensitivo e também dada a gravidade política da época em que aconteceu aquela vida. Exemplo:

__ Descreva o que vê.
L) Uma sala grande… Muitas janelas… Muitas. Passadeiras, quadros.
__ Tem mais alguém aí?
L) Não. Estou esperando alguém.
__ O que você foi fazer aí?
L) Acho que tínhamos um encontro. Agora já chegou.
__ Como é esse amigo?
L) É uma mulher.
__ Como se chama?
L) Therèse. É minha amiga; ou noiva.. ou irmã…não sei… de um amigo meu.

Após algumas seções os diálogos mostram-se consistentes e com muitos detalhes pessoais e históricos. Exemplo:
__ Nessa época havia notas, moedas? Quanto representava?
L) Tinha. O “louis”.
__ Como se repartia em moedas de menor valor.
L) O “sou”.
__ Quanto valia um “sou” ?
L) Um “louis” tinha… um “sou” era a quarta parte. Vinte e cinco “sous” faziam cem “louis”… Havia notas também. A “livre”.
__ Quanto custava os seus jornais? Cada exemplar.
L) Ah… Cinco sous.

O que impressiona nesse caso, além da dramaticidade incorporada ao diálogo, é a grande quantidade de informações históricas difíceis de serem encontradas. Tendo de ser buscado hora numa obra, ora em outra e muitas vezes em livros raros. E praticamente todas as informações se mostraram acertadas. A seguir listo uma relação de informações obtidas nesse estado:
Nome: Camille, Lucie Simplice Benoist Camille Desmoulins.
Ano de nascimento: 1760
Local de nascimento: Guise
Onde mora: Paris
Faculdade: Direito.
Esposa: Lucile. O nome verdadeiro, Anne-Louise Philippe Laridon Duplessis, nasceu em 24 de abril de 1771.
Pai: Jean-Nicolas Benoist Desmoulins, Advogado, magistrado da corte em Aisne.
Mãe: Marie Madeleine Godart.
Irmãos: Sete. Henriete que morreu com 9 ou 10 anos, Marie-Toussaint, Armand, Anne, Lazaré, Clemente e Lucie(eu).
Sogro: Claude Etienne Laridon-Duplessis, trabalhava na Fazenda Pública.
Sogra: Madame Duplessis. Eu a chamava de Madame Darrone. Darrone é Patroa, é gíria.
Saída de casa: 13 para 14 anos, queria sair de Aisne.
Onde estudou: Colégio Clermont, depois mudou para Louis-le-Grand na Rue Saint Jacques.
Amigo do tempo do colégio: Leon… Robespierre, ele foi padrinho de nosso filho, Horace. Ele já estava lá quando cheguei.
Livro que leu antes da guilhotina: Méditation sur le Tombeu, de Jonh Hervey.
Melhor amigo: Danton. Morava na cour de commerce, número 1.
Parente: Fouquier-Tinville Atuou na revolução. Um crápula. Primo distante.
Primeiro Trabalho: Arranjado pelo primo por parte de mãe, Viefville Desessart.
Primeiro jornal publicado: Les Révolutions… Custava 5 sous cada e produção saía por 100 sous, 1 louis.
Salário do tipógrafo: 25 a 30 sous por mês.
Salário de um advogado: 5 ou 6 mil livres por ano.
Os detalhes das informações são impressionantes, e o nosso espírito crítico já tende a conjecturar que são muitos acertos para um só caso, já nos levando a supor alguma espécie de fraude por parte do sensitivo. Talvez ele tivesse estudado tudo isso e conscientemente tivesse dando somente uma demonstração de seus conhecimentos adquiridos. No entanto a maioria das informações foram dadas em repostas a perguntas não previamente fornecidas, e sem nem sequer o pesquisador saber se existiam em livros ou não; o que só seria confirmado em pesquisa posterior. Algumas vezes as perguntas eram preparadas previamente e sem o conhecimento do sensitivo. Uma certa vez, uma terceira pessoa, Murilo Alvim Pessoa – Professor, formulou uma pergunta e lacrou em um envelope o qual somente foi aberto no momento que o Luciano já estava em transe. Vejamos o diálogo:

__ Sobre um jantar de despedida, já muito na tensão, na expectativa de ser preso… Você teria dito uma frase, provavelmente não em Francês, e que alguns historiadores registraram.

(Longos momentos de silêncio e expectativa. De repente, sua respiração se altera,… o tom de voz se modifica…)

L) Eu sei o que ele quer. Foi um jantar… em minha casa. Foi antes de eu ser preso. Eu e Danton. Brune estava presente e queria que eu parasse de publicação do Viex Cordelier. É isso que ele quer. É Latin. Foi… “Edamus et bibamus, cras enim muriemmur!” ; “Buvons et mangeons, nous mourrions demain.”

L) Comamos e bebamos que amanhã seremos mortos— digo eu.

Conclusão

Excluindo-se a explicação de fraude consciente, a hipótese mais plausível é a ocorrência de uma verdadeira Regressão de Memória devido ao alto grau de detalhes históricos que posteriormente revelaram-se verdadeiros.

Mauricio Mendonça

Coordenador do Instituto de Pesquisa de Ciência Espírita do Ceara - IPCE
mauricio.jrm@gmail.com

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