Tradução: Bianca P. Vasques e
André Luis N. Soares
Ian Stevenson
Department of Psychiatric Medicine
University of Virginia Health System
Charlottesville, VA, USA
Para começar com uma definição, a palavra paranormal significa comunicação sem os reconhecidos processos sensórios; pode também se referir a movimentos sem os processos físicos reconhecidos. Por séculos, fenômenos agora descritos como paranormais acontecem e foram observados. A maioria dos historiadores sobre o assunto concorda, porém, investigações sistemáticas sobre tais ocorrências não começaram antes de 1882, quando a Society for Psychical Research (SPR) foi fundada em Londres. Seus fundadores abertamente declararam suas intenções para investigar fenômenos incomuns.
Eu comecei um pouco tarde neste campo, porque minha atividade aí não tinha começado antes que eu tivesse estabelecido-me na psiquiatria convencional. Eu tinha experiência naquela especialidade e em medicina psicossomática. Minha investigação e experiência habilitaram-me para avançar em postos acadêmicos; em 1957 eu era professor designado e Presidente do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Virgínia.
Como eu alcancei aquele posto, requeria uma curta digressão. Desde meu nascimento eu sofria de crises de bronquite, repetidamente, e passava muito tempo na cama. As doenças me seguiam, mas eu lia bastante, e minha dedicada mãe continuava restabelecendo minha saúde. Raramente minha memória é retentiva, e em fases de boa saúde eu ficava à frente de meus colegas escolasticamente. Os professores gostam de alunos superiores, e eu me tornei favorito dentre alguns, na Universidade de McGill. Depois de me recuperar de várias crises de pneumonia, um dos professores aconselhou-me a deixar o frio do Canadá e ir para o calor do Arizona. No Arizona houve uma melhora da minha saúde. Depois disso, eu retomei um melhor caminho ao treinamento e colocação acadêmica.
Mas adiante eu adquiri um pouco de reputação como um dissidente. Este epíteto parece apropriado para alguém que questionou a suposição, até então dogmaticamente pela maioria de psiquiatras, da personalidade humana que é mais plástica na infância do que mais tarde (Stevenson, 1957). A publicação do meu desafio para esta doutrina aborreceu muitos de meus colegas em psiquiatria e até enfureceu alguns. Para mim, a recepção de meu artigo neste assunto provido Journal of Scientific Exploration, Vol. 20, No. 1, pp. Foi uma experiência útil para responder a rejeição de meus estudos sobre fenômenos paranormais.
Sobre o tempo de meu compromisso com a Universidade de Virgínia, eu retornei a um interesse mais cedo. Na infância tive contato com relatórios de fenômenos paranormais através de leituras na extensiva biblioteca de minha mãe, sobre as religiões orientais e teosofia, o último do qual era um derivado de budismo e hinduísmo. Meu treinamento em medicina me trouxe alguns entendimentos de métodos científicos, e eu comecei a perguntar a mim mesmo sobre a evidência para os fenômenos incomuns divulgados nos livros que eu li. Não pareceu conclusivo, mas também não pareceu insignificante. Então eu li mais sobre a pesquisa psíquica, especialmente os trabalhos dos fundadores do SPR, como Frederic Myers e Edmund Gurney, por quem eu desenvolvi uma admiração permanente. Eu também fiquei familiarizado com os líderes do American Society for Psychical Research [ASPR], a qual era a irmã mais jovem da SPR. Neste grupo C. J. Ducasse e Laura, especialmente ganharam minha gratidão por me mostrarem que o ceticismo sobre algumas evidências de fenômenos paranormais, não excluíam a aceitação de outras evidências.
Eu precisei da direção deles. Minhas primeiras publicações no campo eram resenhas de livro, e uma dessas primeiras quase expôs minha inexperiência publicamente. Eu escrevi uma resenha de um livro intitulado The Third Eye: the autobiography of a tibetan lama. O autor dele reivindicou ter sido um lama tibetano dotado de imensos poderes paranormais. Eu estava levando-o a sério até que, em um momento, eu percebi que o autor deste livro era um inglês que nunca tinha estado no Tibet, muito menos vindo de lá. Eu modifiquei minha resenha (Stevenson, 1958).
A escrita sobre um assunto fornece um meio excelente de aprendizagem sobre isto. Conseqüentemente, eu aprendi muito escrevendo e, então publiquei na Harper's Magazine, um artigo de resenha sobre parapsicologia intitulado ''Os Fatos Desconfortáveis sobre Percepção extra-sensorial'' (Stevenson, 1959). Este ganhou a aprovação de Dr. J. B. Rhine, que era naquela época diretor de um laboratório de pesquisa na Duke University. (Rhine renomeou o campo, ou pelo menos parte significativa dele, para ''parapsicologia". Disso, ele e sua esposa, Dr. Louisa Rhine, eram soberanos indisputados.)
Em 1959 eu visitei os Rhines e seus associados. Depois do convencional café matutino com conversação geral sobre parapsicologia, Louisa Rhine levou-me em um cômodo lateral para uma conversa em particular. Lá ela explicou-me sua convicção em que nada significativo poderia ser produzido a partir de relatórios sobre casos individuais. Na visão dela, todos eles eram desprezíveis como prova científica. Em meu artigo na Harper's Magazine eu mencionei relatórios de caso individual e escrevi aquilo por pelo menos alguns deles merecerem a atenção de investigadores. Louisa Rhine generosamente esperava me salvar de empenhos fúteis. Seu aviso veio muito tarde. Alguns dos relatórios que eu li, dos mais recentes pesquisadores psíquicos, dos quais eram então chamados ''casos espontâneos'', profundamente me impressionaram. Apesar de suas críticas ásperas sobre eles, Louisa Rhine, não obstante, estudou casos espontâneos dela mesma, mas ela fez isto quase exclusivamente só no lado perceptivo [receptores das experiências] de um caso. Os mais recentes investigadores, porém, averiguaram ambos: os remetentes (ou agentes) e os perceptivos (receptores) das experiências. Eles notaram características semelhantes em muitos dos casos divulgados. Entre estes [agentes e receptores] havia uma alta incidência de súbita e freqüente morte violenta (ou outra crise séria) no agente e um familiar ou outro vínculo sentimental entre os dois participantes em um caso.
Eu decidi investigar casos que chamaram a minha atenção e comecei a publicar relatórios deles. Neste momento - nos anos 50 - tive um interesse em reencarnação, e eu rapidamente aprendi que poucos casos sugestivos de reencarnação tinham sido investigados. Uma das poucas exceções era um relatório de quatro casos publicados por um investigador indiano em um jornal francês (Sunderlal, 1924). (Mais tarde eu observei que o autor tinha primeiro oferecido seu relatório para um jornal Americano que o rejeitou) Eu pensei talvez até mesmo não investigar casos que revelariam pouco interesse. Eu, conseqüentemente, examinei os detalhes publicados de 44 relatórios de reivindicações de lembranças de vida passada. Eu tomei ciência destes em jornais, revistas, e livros. A maioria destes relatórios forneceu poucos detalhes, e quase nenhum ofereceu alguma evidência verificada (ou até verificável). Eu separei os 44 casos excluindo aqueles em que o sujeito [quem reivindica] e a presumida pessoa falecida eram relacionadas ou familiarizadas e aqueles em que o assunto fez seis ou menos menções de reivindicação de vida passada. Dos restantes 28 casos, a idade do primeiro relato sobre a vida passada era conhecido em 25. Em 22 destes, as memórias reivindicadas tinham sido primeiramente articuladas quando o sujeito ainda era uma criança com menos de 10 anos de idade. Isto parecia ser o argumento de maior peso. Conseqüentemente, eu publiquei (no Journal of the American Society for Psychical Research) um artigo de duas partes com esses casos e recomendações que mais destas crianças deveriam ser procuradas e suas reivindicações averiguadas (Stevenson, 1960a,b).
Nunca me ocorreu então que eu seria a pessoa que iniciaria as investigações que eu defendi. Eu estava muito ocupado: administrando um departamento, atencioso com pacientes, e tomar parte em outra pesquisa. Meu papel tinha, porém, vindo para a atenção de duas pessoas cujo interesse e sustentação estimulou. Eles influenciaram minha vida profundamente.
As primeiras destas pessoas, Eileen Garrett, era tanto uma médium espiritualista como também uma notável empresária bem sucedida. Ela persuadiu um doador rico a estabelecer a Fundação de Parapsicologia, do qual Eileen era a Presidente. Eu primeiro a encontrei, mais ou menos, em 1957 e, no momento, mencionei meu interesse em reencarnação. No início de 1961 ela me telefonou e disse que recebeu um relatório de uma criança na Índia que alegou lembrar de uma vida passada. A criança pareceu ser como aqueles que eu mencionei em meu artigo. Garrett me perguntou se eu estaria interessado em ir para a Índia investigar as alegações das crianças. A Fundação de Parapsicologia pagaria a minhas despesas. Eu aceitei sua sugestão, com o acordo em que eu só poderia ir para a Índia durante minhas férias, em agosto. Quando agosto chegou, eu fui à Índia e passei quatro semanas lá e, aproximadamente, uma semana em Ceylon (agora o Sri Lanka). Antes de partir para a Ásia, eu tive algumas informações fragmentárias, mais ou menos três ou quatro outros casos na Índia e mais ou menos dois no Sri Lanka. Esta informação não me preparou, porém, para a surpresa encontrei uma abundância de casos em ambos os países. Quando eu deixei Ásia, eu soube não menos de 25 casos na Índia e 7 no Sri Lanka. Em menos de cinco semanas eu não pude investigar adequadamente todos estes casos e então selecionei apenas alguns para estudar cuidadosamente. Eu notei os locais e alguns detalhes sobre os outros casos.
Uma segunda surpresa para mim, durante esta primeira viagem para a Índia, veio quando eu percebi que os casos se constituíam muito mais do que uma reivindicação de criança lembrar de vida passada. As crianças também mostravam um comportamento incomum em suas famílias e isto, naqueles casos em que as reivindicações eram constatadas, combinou o comportamento das pessoas falecidas às das crianças reivindicadas. Minha primeira jornada na Ásia então mostrou à necessidade para mais outras.
Isto me trouxe um segundo importante leitor de meu artigo em 1960 no Journal of the American Society for Psychical Research. Este era Chester F. Carlson, o inventor de xerografia. Ele tinha experiência como cientista, e antes de seu segundo casamento ele acreditou, como a maioria dos cientistas faziam (e ainda fazem), que a mente é só um produto do cérebro e suas propriedades inteiramente físicas. Sua segunda esposa, Dorris, tinha alguma capacidade para percepção extra-sensorial. Ela impressionou seu marido com sua habilidade e também o influenciou-o para sustentar pesquisas em fenômenos paranormais. Cedo, em 1961, ele ofereceu fundos para minha pesquisa depois que eu já tinha me comprometido a ir para a Índia em agosto. Eu disse a ele que eu não podia aceitar capitais adicionais naquele tempo. (Antes de partir para a Índia, não obstante, eu aceitei dele algumas centenas de dólares para um gravador.)
Quando meu primeiro trabalho na Índia necessitou de jornadas adicionais lá, me ocorreu que eu poderia fazer aquelas jornadas, reduzindo o tempo, aí então, eu estaria dando a prática clínico. Chester Carlson fez isto possível com presentes anuais para a Universidade de Virgínia. Em 1964 ele fez uma doação particularmente grande, isso se tornou o ''depósito,'' por assim dizer, para uma cadeira dotada do qual eu era o primeiro titular. Era, incidentemente, um dos primeiros das tais cadeiras na Universidade de Virgínia. Os capitais da dotada cadeira me deram mais tempo para pesquisas, mas as despesas de jornadas para investigar casos ainda precisava de doações anuais, que Chester Carlson também forneceu.
Como um doador de fundos para a pesquisa, Chester Carlson era incomum, talvez único. Ele insistiu anonimamente doar quantia, mas outros doadores fizeram isto. A maioria de doadores, entretanto, mais tarde ficaram isolados com detalhes da pesquisa que investiam. Chester Carlson, em contrapartida, seguiu os detalhes da pesquisa - pelo menos do que eu estava fazendo—com grande interesse. Disse que ele gostaria de observar algumas de minhas entrevistas, e ele me acompanhou em uma de minhas viagens de campo para o Alasca, onde eu estava estudando casos entre as pessoas de Tlingit. Ele às vezes fazia perguntas, mas nunca eram obstrutivas. Ele raramente fez sugestões, mas o que ele disse sempre merecia atenção. Minha amizade com ele se encontra entre o mais agradável e também, como eu devo falar, entre as mais importantes de minhas memórias.
O relatório de meus primeiros estudos na Ásia estava sob pressão quando inesperadamente um homem que me ajudou com alguns casos foi acusado de fraudulento. Embora a alegação aplicada a experimentos com os quais eu não fazia parte, a divulgação da suspeita sobre o trabalho que o homem acusado fez para mim, levou ao editor a parar de imprimir meu relatório. Eu tinha outros intérpretes além do homem acusado de fraude, e, crendo que o homem não tinha fraudado quando trabalhou comigo. Eu propus retornar a Índia e estudar os casos novamente. Isto requereu grande despesa adicional, e eu pedi conselho a Chester Carlson. Ele me encorajou para retornar a Índia. Eu fiz isto e, com novos intérpretes, mostraram à autenticidade dos casos. A impressão de meu relatório foi então recomeçada, e foi propriamente publicada como Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação (Stevenson 1966/1974a).
Durante os oito anos de investimentos de Chester Carlson's a minha pesquisa (1961–68), Eu ainda não estava exclusivamente comprometido com o estudo de fenômenos paranormais. Minha bibliografia mostra que meus interesses em psiquiatria e medicina psicossomática não diminuíram. Eu tive e ainda tenho um grande interesse na pergunta de como a pessoa desenvolve um tipo de enfermidade em vez de outro tipo. Os documentos que tocam neste assunto podiam ser publicados em jornais convencionais enquanto estudos de fenômenos paranormais não podiam. Em 1960 eu publiquei um livro de entrevista (Stevenson, 1960/1971). alguns anos mais tarde eu publiquei outro livro, realmente um
livro de ensino, em exames psiquiátricos (Stevenson, 1969).
Neste período eu alarguei meus estudos de fenômenos paranormais além das crianças que reivindicaram lembrar de vidas passadas. Por exemplo, eu investiguei e publiquei documentos sobre aparições, precognição, mediunidade, e ''fotografia psíquica.'' Em 1970 eu publiquei meu primeiro livro de fenômenos paranormais, um dos quais eu chamei de ''impressões telepáticas'' (Stevenson, 1970). (isto possibilitou a Dra. Louisa Rhine, que revisou o livro, uma oportunidade para desvalorizar mais publicamente o estudo de casos espontâneos). Minha realização mais importante deste período, entretanto, foi a mencionada publicação em 1966 de meu livro Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação (Stevenson, 1966/1974a). Este apresentou relatórios de casos com abundantes detalhes sobre os informantes para cada caso e o que eles disseram sobre as reivindicações dos assuntos para sobrevivência de vidas passadas.
Em 1968 Chester Carlson morreu. Eu era apenas uma de muitas pessoas que lamentaram sua morte como uma perda pessoal. Sua amizade e aquela de sua esposa, Dorris, enriqueceu minha vida além da medida. Para mim, porém, sua morte também significou o fim de seus subsídios anuais para minha pesquisa. Eu lembro que pensei que teria que voltar a outra parte de minha carreira, a convencional, sobre pesquisa em psiquiatria e medicina psicossomática. Então, para a surpresa de muitas pessoas, inclusive a minha, nós aprendemos que Chester Carlson's doara paraa Universidade de Virgínia um milhão de dólares para minha pesquisa sobre fenômenos paranormais. Não surpreendentemente, isto provocou uma controvérsia entre a os administradores da Universidade. Eu soube depois que alguns adversários de minha pesquisa disseram que eu puderia tomar os milhões de dólares para mim desde que deixasse a Universidade. (Ninguém disse isto diretamente para mim.) O Presidente da Universidade (Edgar Shannon) um pouco tempo antes citou publicamente uma declaração de Thomas Jefferson, escrita em 1820 quando estava no processo de fundação da Universidade. ''Esta instituição,'' Jefferson escreveu, ''será baseada na liberdade ilimitável da mente humana. Para aqui nós não temos medo de seguir a verdade onde quer que possa nos levar, nem tolerar por qualquer tempo algum erro como a razão é deixada livre para combatê-lo'' (Lipscomb & Bergh, 1903: 303). Até os oponentes mais obstinados de minha pesquisa não fizeram ousaram agir contra o preceito de Jefferson. Meus partidários então prevaleceram, e assim minhas pesquisas com o Paranormal. A universidade aceitou o legado de Chester Carlson. Por isto, eu devo muito ao Presidente Edgar Shannon e também para Thomas Hunter, então Chanceler de Assuntos Médicos.
Até antes da morte de Chester Carlson, eu decidi dedicar todo o meu tempo com pesquisas em fenômenos paranormais, particularmente aqueles que sugeriam a sobrevivência após a morte. Em 1967 eu renunciei como Presidente do Departamento de Psiquiatria depois de negociar o estabelecimento de uma pequena Divisão pequena do Departamento. Eu não desejava a palavra parapsicologia no título da nova Divisão, Porque Eu pensava que implicaria e até mesmo facilitaria uma separação de psiquiatria e medicina. Isto, porém, era exatamente o que meu sucessor como Presidente parecia desejar—uma distância isolante entre nossa pesquisa e respeitabilidade. (Mais tarde, sob uma administração mais amigável, eu prontamente obtive autorização para mudar o nome da divisão para um que eu anteriormente desejei: Divisão de Estudos de Personalidade.)
Durante os anos 1960 e pela maioria de dos anos de 1970, eu trabalhei só na Universidade da Virgínia. Quando eu estava na Ásia, eu tive alguns excelentes intérpretes me ajudando , mas todos eles tinham ocupações regulares para qual retornaram assim que Eu parti. Nós precisávamos dar continuidade. O legado de Chester Carlson e alguns investimentos de outros doadores fez-se possível eu me empenhar na Research Assistant e para financiar outros investigadores.
O primeiro deles foi Gaither Pratt. Ele foi por muitos anos assistente de J. B. Rhine, mas quando Rhine se aposentou da Universidade de Duke e estabeleceu uma fundação privada (para a qual ele levou os capitais presos por seu laboratório), Pratt não tinha nenhum lugar na fundação. Neste momento (1964) Chester Carlson ofereceu financiar Pratt se nós achássemos um lugar para ele na Universidade de Virgínia. Eu dei boas-vindas a esta proposta, mas tive que usar toda minha habilidade diplomática para persuadir o Decano da Escola Médica para concordar comigo. Com alguma relutância ele acatou, com a observação, que ''isto é algo que nós podemos manter em privacidade.''
Durante os cinco anos seguintes à morte de Chester Carlson, Dorris Carlson deu à Divisão doações anuais. Isso nos habilitou a continuar sustentando Gaither Pratt e dois outros parapsicólogos capacitados, Rex Stanford e John Palmer. As publicações destes três pesquisadores, mais tarde, forneceu um capítulo importante na história da parapsicologia. Quando, em 1973, Dorris Carlson retirou seu suporte, eu fui obrigado a encorajar meus colegas a achar outras posições.
Mais tarde, nosso capital foi restabelecido, e de uma forma ou de outra eu podia ter recursos e ter colegas novamente [nas pesquisas]. Bruce Greyson, Satwant Pasricha, Emily Kelly, e Antonia Mills vieram até a mim de um modo ou de outro deixaram de ser assistentes para se tornarem investigadores independentes. Mais recentemente Jim Tucker juntou-se ao nosso grupo e já se mostrou um investigador prolífico e um autor altamente competente. Eu devia também mencionar aqui Erlendur Haraldsson da Universidade da Islândia e Jrgen Keil da Universidade do Tasmânia. Eles mantiveram suas posições acadêmicas, mas receberam financiamento de nossa Divisão que habilitou ambos a trabalhar independentemente e colaborar comigo em alguns projetos de junção. Walker Cowen, o fundador e Diretor da Universidade de Virgínia Press (que leva seu nome atual), tornou-se meu editor de 1970 até sua morte em 1987. Ele habilitou-me a fazer cópias de um número significativo de relatórios de casos que, se não fosse isso, ainda permaneceriam datilografados em minhas prateleiras. Ele reconheceu que meus livros "são para o futuro". Infelizmente, ele morreu antes do futuro que ele esperava chegar, mas seu sucessor teve uma opinião diferente do que aquele futuro deveria ser. Eu tive que procurar um novo editor, mas fui novamente afortunado e conduzido primeiramente para a Praeger Scientific Publishers e então para Robbie Franklin de McFarland e Company.
Alguns de meus livros mais tarde foram revisados em jornais científicos, mas a maioria não. No caminho, eu aprendi muito sobre a importância de editores que revisam os livros. Por exemplo, em 2000 eu enviei uma relatório revisado sobre as crianças que reivindicavam lembrar de vidas passadas para David Horrobin, o editor de Medical Hypotheses. Ele fundou este jornal para promover publicações de idéias incomuns e tópicos não convencionais. Existiam revisores, e ele enviou meu relatório para vários deles. Então ele me escreveu dizendo que não poderia achar ninguém que levasse meus relatórios a sério, mas ele iria publicá-lo de qualquer maneira, e foi o que ele fez.
Eu acredito que eu seja mais conhecido por meus estudos de crianças que reivindicam lembrar de vidas passadas. Eu não posso objetar isto, mas eu espero que outros investigadores continuem algumas das outras abordagens que evidenciam a vida após a morte que eu explorei. Aqui eu me refiro a casos de xenoglossia (idiomas não aprendidos) dos quais publiquei dois livros (Stevenson, 1974b, 1984) e o teste segredo de cofre (Stevenson, 1968). Felizmente, meus sucessores não estão presos às minhas idéias. Os estudos de Emily Kelly sobre mediunidade mostram sua independência.
Em 1980 eu encontrei ainda outra pessoa que influenciou muito minha vida. Um colega na Universidade de Virgínia me apresentou a Peter Sturrock, que me explicou sua idéia sobre a Society for Scientific Exploration. Ele me convidou para juntar-se ao Comitê de Fundação, e eu fiz muito entusiasticamente. As reuniões desta Sociedade e seu Journal of Scientific Exploration provêem um fórum onde a pesquisa sobre fenômenos paranormais podem ser apresentados para outros cientistas sem obstrução ou derrisão. A Sociedade também dá boas-vindas a apresentações de pesquisas em muitos outros fenômenos negligenciados pela maioria dos cientistas. Os fundadores da Sociedade acreditaram, e eu acho que eles e seus sucessores também, na existência de muitos desafios da Sociedade e outras Sociedades científicas para liberalizar suas políticas de investigações não convencionais. Isto ainda não aconteceu.
Ainda devemos persistir. Eu penso que nós fazíamos muito submissamente. Eu mesmo estou cansado de ler lamentações sobre Galileo, Wegener, Jenner, e numerosos outros cientistas de quem seus contemporâneos, a princípio, rejeitaram suas idéias inovadoras. Nós não podemos esperar todas as novas idéias de céticos para nos render como um todo, para desmoronar simultaneamente como as paredes de Jericó. Cada um de nós deve lutar por nossas novas idéias. Nós somos abençoados porque podemos pelo menos expor as nossas idéias para outros cientistas através de nossas oportunidades na Society for Scientific Exploration.
A Society for Scientific Exploration ofereceu-me as primeiras oportunidades para relatar adequadamente duas de minhas investigações mais significativas. Eu me refiro, primeiro, as marcas e defeitos de nascença que ocorrem freqüentemente em crianças que lembram de vidas passadas, e; segundo, para qual eu acredito que são importantes evidências de um incomum comportamento derivado de vidas passadas. Os informantes chamaram minha atenção para estas duas características de casos logo em minha primeira jornada para a Ásia em 1961, e eu acho agora isto lamentável pois não publiquei com detalhes completos sobre marcas e defeitos de nascença até 1997 (Stevenson, 1997a,b).
Alguns leitores de minhas publicações podem considerar minha monografia sobre Reencarnação e Biologia como Meisterwerk. No que diz respeito ao mero tamanho (2 volumes, 2268 páginas) ninguém discordaria. Eu espero, porém, que o trabalho seja mais que uma compilação. Inclui relatórios e detalhes adicionais sobre casos que eu não tinha previamente publicado. O capítulo dos gêmeos (um ou ambos que reivindicam lembrar de uma vida passada) pode ser um dos mais importantes de todas as minhas publicações.
Quanto às lembranças comportamentais de vidas passadas, eu fixei exaustivamente a atenção para sua importância como um terceiro componente ao desenvolvimento da personalidade humana, os outros dois são os genes e o ambiente após a concepção. (Stevenson, 1977, 2000). Um jornal recentemente publicou (com Jrgen Keil) que eu relacionei esta importante característica com os exemplos dos casos de crianças de Myanmar que lembraram de vidas passadas como se tivessem sido soldados Japoneses mortos durante a Segunda Guerra Mundial (Stevenson & Keil, 2005).
Nós freqüentemente não podemos identificar importantes aspectos de eventos como tal quando eles acontecem. Meu segundo casamento mostra um bom exemplo disto. Em 1985 me casei com Margaret Pertzoff, que era então uma professora de história em Randolph-Macon Woman's College. Ela era e declarava ser uma cética sobre fenômenos paranormais. Ela não escondeu sua posição sobre o assunto, mas nunca permitiu que isto interferisse na felicidade de nosso casamento. Seu silêncio benevolente às vezes me trazia um valioso cometimento, necessário frente a um entusiasmo sem garantias de minha parte.
Em 1997–98 eu me comprometi com um projeto que me pareceu precipitado, mas também tive a possibilidade de fazer minha pesquisa mais conhecida para o público em geral. Eu concordei com um pedido de um escritor para me acompanhar em viagens de campo na Ásia. Ele iria observar-me de perto da maneira como eu conduzia minhas entrevistas para os casos. Ele pagava suas próprias despesas e depois ficava livre para escrever sobre suas experiências sem ser censurado por mim. Ele se saiu bem. O escritor era Tom Shroder, que é agora um editor sênior da Washington Post. Tom era um viajante sociável, mas ele suportou bem as dificuldades freqüentes das jornadas no Líbano e na Índia. O livro que ele escreveu é intitulado Old Souls: The Scientific Evidence for Past Lives (Shroder, 1999). Pareceu-me justo e, mais importante, favorável às crianças que reivindicam lembrar de vidas passadas. O livro realmente fez que os casos destas crianças ficassem bem mais conhecidos.
Minhas jornadas físicas estão agora terminadas, pelo menos para esta vida. Todavia, eu não considero o tempo que eu me dediquei para psiquiatria e medicina psicossomática como perdido. Pelo contrário, eu penso que me deu uma útil preparação para qualquer estudo posterior que eu tenha realizado sobre fenômenos paranormais.
Todos nós morremos de alguma aflição. O que determina a natureza daquela aflição? Eu acredito que a procura pela resposta pode nos levar a pensar que a natureza de nossas enfermidades pode derivar pelo menos em parte de vidas passadas. Os casos de crianças que reivindicam lembrar de vidas passadas e que relacionaram marcas e defeitos de nascença sugerem isto; algumas destas crianças relacionam doenças internas. Minha própria condição física, defeitos de meus tubos bronquiais (desde de minha infância) do qual eu tenho separadamente escrito (Stevenson, 1952a,b), deu-me um interesse pessoal nesta importante questão. Não pensem que eu sei a resposta. Eu ainda a estou buscando.
Reconhecimentos:
Eu desejo primeiro agradecer ao Professor Henry Bauer por sugerir que eu escrevesse para este ensaio. Eu devo agradecer também aos comentários úteis esboçados nos ensaios de Emily W. Kelly, Jim Tucker, e Patricia Estes.
Referências:
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