quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A Decadência dos Fenômenos Mediúnicos de Efeitos Físicos

Por Mauricio Mendonça, 2006

SUMÁRIO: Durante as duas últimas gerações de pesquisadores psíquicos não houveram pesquisas envolvendo médiuns e fenômenos mediúnicos de efeito físicos com a qualidade e intensidade registradas no final do século XIX e inicio do seculo XX. Algumas possíveis explicações tem sido levantadas por pesquisadores atuais, que vão da ocorrência de fraude no passado, até questões psico-sociais. Nesse artigo a apresentação de uma explicação espírita que leva em conta as caracteristicas especias do objeto em estudo, que associada com as demais pode esclarecer melhor essa questão.
Introdução

É notório que o auge das pesquisas envolvendo os fenômenos mediúnicos e os de efeitos físicos em particular (FMEF), situam-se nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX. As pesquisas com Florence Cook (William Crookes) e Daniel D. Home (vários pesquisadores) são bons exemplos dessa fase. Essas pesquisas podem ser consideradas de boa qualidade à época, apesar de que os recursos e controles de então provavelmente seriam hoje considerados insuficientes. Alguns críticos afirmam e com uma boa dose de razão que seria necessário replicar essas pesquisas na atualidade e que isso poderia ser suficiente para concluir positivamente sobre as teorias da sobrevivência e dos fenômenos Psi em geral, e se isso não acontece pode ser simplesmente porque esses fenômenos não são reais. Segundo eles, os resultados positivos obtidos poderiam resultar de fraudes por parte dos médiuns e isso associado ao despreparo dos pesquisadores. Argumentam que os controles de hoje são muito superiores, incluindo sempre a participação de mágicos e ilusionistas, além de que os recursos tecnológicos disponíveis serem mais adequados para impedir tentativas de fraudes.

Pensamento de Pesquisadores Modernos

Eu não vou argumentar aqui contra a hipótese de fraude, simplesmente eu vou assumir que os fenômenos ocorreram de acordo com as conclusões das pesquisas que foram melhor conduzidas, ou dizendo de outra forma, que os fenômenos nesses casos foram reais. Eu não estou afirmando que não houve fraude em tal demonstração, se possível, requeria um grande espaço e fugiria do foco desse artigo. O problema passa a ser então a responder a pergunta: "Por quê houve uma decadência na pesquisa dos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos?". Essa questão é sutilmente diferente de perguntar se os FMEF realmente desapareceram, nos moldes do que produziam os grandes médiuns como Eusapia Paladino e Douglas Home, ou simplesmente eles não são postos em análise ou os novos médiuns mantém-se anônimos por escolha deles próprios. O fato é que não surgiram médiuns com características e potencial desses citados nos últimos 50 anos ou mais. O mais provável é que não haja uma única resposta para essas questões, e sim uma combinação de razões. Na opinião de John Beloff (1) [Implicações filosóficas dos estudos parapsicológicos] houve uma onda ciclotímica muito parecido com o que acontece com movimentos artísticos que surgem e esmaecem com o passar do tempo, até acontecer uma outra 'onda'. Ele disse: "... quero assinalar é que como aparecem aqueles reflexos de criatividade que geralmente associamos com a atividade artística, a manifestação do fenômeno paranormal aparece também de maneira ciclotímica ... ". Apesar disso ele diz: "A dura verdade que temos que enfrentar é que a crua realidade do fenômeno Psi não foi verificada à satisfação de todos." referindo-se aos fenômenos Psi em geral.

O Professor Ian Stevenson (2) [Pensamentos Sobre o Declínio dos Macros Fenômenos Paranormais] entre outras explicações, considera que "O ceticismo derivado do materialismo filosófico pode inibir normalmente a ocorrência de fenômenos paranormais importantes. ... As fontes bem promissoras de fenômenos paranormais importantes hoje podem estar em países industrialmente pouco desenvolvidos, entre alguns indivíduos especialmente dotados, e em certas experiências raras...". Mas a frente ele diz: "os pesquisadores psíquicos das últimas duas gerações tinham menos receio dos macros fenômenos do que da desaprovação de colegas em outros ramos de ciência. Isto levou muitos deles a imitar psicólogos, que, em seus laboratórios, tentavam imitar os físicos e os químicos nos seus." (Stevenson, 1987). e depois continua: "Além do mais, a pobreza de cientistas conhecidos em tomar interesse nestes fenômenos significa que as pessoas tendo experiências paranormais possuem pouca informação sobre pessoas profissionais qualificadas a quem eles possam descrever o que experimentam. Também, pessoas que têm ou que pensam que podem ter sensibilidades especiais ou capacidades mediúnicas não têm quase ninguém qualificado na pesquisa psíquica a quem eles possam se voltar para estímulo e direção.". Entretanto ele reconhece que " ... Também, algum declínio no interesse dos investigadores de agora pode resultar de uma queda na quantidade e qualidade dos fenômenos disponíveis para estudo. ... Posso garantir a vocês que as reivindicações dos macro fenômenos que permitem investigação não cessaram por completo, porque nossa unidade na Universidade de Virginia continua a ser notificada deles de vez em quando."

O Efeito “Vontade” do Objeto de Estudo

De minha parte, que aceito a sobrevivência da alma como hipótese de trabalho, não abdicarei de propor uma explicação um pouco mais heterodoxa e nem reivindico que ela seja inédita. Não significa que essa explicação substitua todas as outras citadas anteriores, mas mesmo que as complementa. Acredito que houve realmente uma significativa diminuição na ocorrência dos FMEF, apesar de outros fatores também influenciem o decréscimo da divulgação desses fenômenos e também das pesquisas relacionadas. Dessa forma essa onda ciclotímica sugerida por Beloff teria sido produzida intencionalmente por entidades desencarnadas (espíritos) interessados na produção daqueles fenômenos no período citado, como parte de uma estratégia mais ampla visando o desenvolvimento moral e tecnológico da humanidade, e especialmente moral. Uma boa parcela de críticos e pesquisadores psíquicos ainda não compreendeu ou não aceitou o fato que o seu objeto de discursão, tem características que outros objetos de estudo não possui, que nesse caso são vontade e intencionalidade. Outros fatores como os citados por Stevenson podem ter contribuído, mas em um grau menor. A ausência de pesquisas então, seria resultado da escassez de médiuns para serem estudados, isso tanto porque diminuiu a ocorrência dos fenômeno quanto pelos outros fatores já citados.

E por que os 'espíritos' não continuaram produzindo os fenômenos da mesma intensidade do período citado, já que aparentemente o objetivo era demonstrar a sua própria existência?

Kardec (1857) deixou claro em vários momentos que um dos principais objetivos do surgimento do espiritismo era contrapor-se ao materialismo que estavam em franca ascensão naquela época. Parecia que o positivismo lógico em breve responderia a todas as questões sobre o universo, não deixando espaço para nenhum tipo de superstição (incluindo a religião) na mente das pessoas mais cultas. O movimento espiritualista surgiu fortemente com muitos fenômenos e poderosos médiuns, inclusive de médiuns que provocavam os fenômenos analisados aqui. Cientistas e estudiosos renomados convenceram-se da realidade dos fenômenos: William Crookes, Camile Flamarion, Ernesto Bozzano, Cesare Lombroso, etc.. Nesse contexto uma conclusão parecia inevitável, o fenômeno era real. Entretanto a interpretação desses fenômenos foram motivos de intensos debates, muitos atribuíam à uma força psíquica do próprio médium, portanto sem a necessidade de um agente desencarnado. Essa idéia é basicamente igual ao que alguns pesquisadores atuais dos fenômenos Parapsicológicos chamam de super-Psi. Na minha avaliação e pesquisadores como os citados acima e ainda Alan Gauld e S. Braude mais recentes a explicação espiritualista era mais consistente com o resultados das pesquisas, e no entanto não conseguiu convencer a maioria dos pesquisadores, e assim o impasse permaneceu por algumas décadas. Notemos que nenhuma das explicações enquadrava-se no pensamento materialista, pois de alguma forma havia algo imaterial agindo naqueles fenômenos.

Enquanto isso, as ciências naturais davam saltos cada vez maiores, isso induzia os pesquisadores psíquicos a usarem a mesma metodologia de trabalho. Esse foi o caminho seguido por J. B. Rhine (1934) na tentativa de explicar o que ele chamou de ESP (Extra Sensorial Perception) mudando o foco das pesquisas para uma perspectiva estatística e laboratorial, criando assim uma "nova" ciência - a Parapsicologia. O sucesso inicial dos resultados de Rhine a respeito da telepatia e da clarividência, pareciam apontar para a solução da questão pendente das décadas passadas. Depois, alguns pesquisadores exageraram ao usar os resultados estatísticos da parapsicologia para declarar que todos os fenômenos autênticos espiritualistas eram na realidade manifestações parapsicológica do inconsciente (René Sudre, e outros). Nesse ponto os FMEF cessaram ou ficaram ocultos. Na minha opinião os 'espíritos' nos deixaram fazer o que para nós parecia ser o melhor caminho, ou seja, tentaríamos usar os métodos analíticos e estatísticos em laboratório; e deixaram em beneficio do nosso próprio aprendizado, suponho.

Após meio século de pesquisas, a parapsicologia não havia ainda conseguido o seu intento, e apesar do aperfeiçoamento dos experimentos (ver experimentos Ganzfeld) o resultado estatístico ainda não foi capaz de convencer os seus críticos e nem a maioria dos pensadores acadêmicos da realidade dos fenômenos Psi. Stevenson (1987) considerou que "A ênfase desequilibrada em experiências de laboratório que agora prevaleceu entre duas gerações de pesquisadores psíquicos necessita correção de rumo, ...". Não penso que os experimentos estatísticos laboratoriais devam ser abandonados, mas me parece claro que os macros fenômenos, por serem auto evidentes, devem voltar a ocupar o lugar que já possuíram dentro da pesquisa psíquica. Assumir definitivamente, mesmo que como hipótese de trabalho, que os esforços devem ser de ambos os lados, dos pesquisadores humanos e dos pesquisadores desencarnados.

Um ótimo exemplo, que pode estar encabeçando uma novo ciclo de pesquisas com macros fenômenos - FMEF, foram as pesquisas que culminaram no pouco divulgado Scole Report (Soloman, Grant & Jane) (1999). The Scole Experiment. Scientific Evidence for Life After Death ; Londres: Judy Piatkus, 1999). Nesse relatório membros da SPR de Londres pesquisaram por dois anos e publicaram um detalhado e completo relatório com fenômenos comparáveis aos obtidos com os grandes médiuns de efeitos físicos no início do século XX. O Brasil, apesar do alto potencial em relação a mentalidade favorável da população em geral, é um péssimo exemplo em se tratando de pesquisas cientificas nessa área. Em particular os espíritas, que por razões diversas que não cabe analisar aqui, não incentivaram de forma consistente as pesquisas, seja não produzindo pesquisas, seja por não elaborar os relatórios necessários de eventuais experimentos. Espero que os bons ventos dessa nova onda cheque rapidamente em terras tupiniquins.

Mauricio MendonçaCoordenador do Instituto de Pesquisa de Ciência Espírita do Ceara - IPCE mauricio.jrm@gmail.com

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