quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Ian Stevenson: “Children Who Remember Previous Lives, A Question of Reincarnation”

por Richard Rockley, 2006

Ian Stevenson gastou 40 anos estudando a evidência para a reencarnação, principalmente por investigar as alegações de crianças que parecem lembrar-se de aspectos de suas vidas prévias. Sua pesquisa consiste num corpo enorme de trabalho, e é considerado por muitos ser evidência científica de reencarnação. Stevenson escreveu este livro, detalhando 14 casos, com o objetivo de apresentar um registro da sua pesquisa, e então parece razoável supor que a evidência apresentada seja ao menos representante do total. De fato, se esperaria que o livro consistiria nos casos mais convincentes. Conseqüentemente eu acredito que seja válido examinar no que consiste a evidência apresentada neste livro, e extrair conclusões dele sobre o restante da pesquisa do Stevenson.
 
Assim no que consiste o livro?
 
Primeiro, sou impressionado pela integridade e honestidade de Stevenson, mas menos então com seu rigor intelectual. Os 14 casos que ele cita não registram nada mais que anedotas: Todo o “comportamento de vidas passadas” foi testemunhado antes do autor ter encontrado quaisquer dos indivíduos e então a veracidade das histórias é difícil de determinar. Além do mais, nos capítulos posteriores Stevenson faz várias declarações e tira conclusões que em minha visão colocam dúvida na sua credibilidade e neutralidade.
 
Estou ciente que Stevenson publicou muito mais trabalho que isto, mas acredito os casos e comentários neste livro são representantes do seu trabalho.
 
Os 14 casos
 
Antes de eu ter pego o livro, eu perguntei-me como Stevenson asseguraria que as histórias eram genuínas. Eu tinha a idéia que ele teria pesquisado um número de crianças aleatoriamente, visto se quaisquer uma delas lembrava-se de uma vida prévia, e então as acompanhado. Parecia-se o tipo de coisa a se tentar, e pensei que devia ser algo como isso. Então como comecei a ler os casos eu fiz notas sobre quando o autor tomou conhecimento do caso pela primeira vez. Eu logo abandonei nessa idéia porque, como descobri, o autor não envolveu-se em nenhum destes casos até algum tempo depois considerável que as crianças foram informadas como lembrando-se de suas vidas prévias. Assim eram todos apenas anedotas, embora bem documentadas e referenciadas. Era menos do que eu tinha esperado.
 
De qualquer jeito, dos 14 casos:
 
a. Três eram não resolvidos (i.e., a identidade da “vida prévia” era desconhecida)
 
b. Nove foram resolvidos, mas a pessoa da vida prévia teve (ou podia ter tido), algum contato com a família da criança
 
c. Dois foram resolvidos, e as famílias aparentemente não tiveram nenhum contato.
 
Para mim, os casos “não resolvidos” não valem nada. A criança poderia estar fantasiando, poderia estar repetindo o que ela ouviu na TV ou rádio, ou poderia haver outras explicações que não envolvem reencarnação. Os nove casos resolvidos com contato são interessantes. A identidade da vida prévia foi confirmada, e freqüentemente a criança foi reportada como sabendo informações sobre a pessoa morta, a sua família, o modo de morte etc. No entanto, há claramente outro meio em que a criança podia ter conseguido esta informação. Estes casos são mais interessantes, em minha visão, em demonstrar o desejo forte que o autor tem em provar uma conexão reencarnatória. Discutirei sobre quatro desses nove casos, e também sobre os dois casos resolvidos sem nenhum contato (que devem ser os mais fortes em favor da hipótese de reencarnação).
 
Primeiramente, aqui estão quatro dos casos com uma conexão de família. Forneci descrições muito breves - o livro naturalmente tem muito mais.
 
Corliss Chotkin Jr
 
Numa comunidade que acredita em reencarnação, um homem idoso conta a sua sobrinha que ele renascerá como seu filho. E aí, presto, ela tem um filho que ela alega ser seu tio renascido, completo com as marcas de nascimentos nos mesmos lugares que as cicatrizes do seu tio. No entanto, pelo tempo que Stevenson “primeiro examinou estas marcas de nascimentos, ambas tinham mudado de lugar.”
 
Isto é ilusão da parte da mãe. Também, uma indicação aparente da ingenuidade no autor, aceitando que as marcas de nascimento tinham se “movido”.
 
Gillian e Jennifer Pollock
 
Duas meninas gêmeas (de seis e onze) foram mortas tragicamente. O pai era um crente forte em reencarnação, e estava seguro que elas renasceriam através de sua esposa como gêmeos. Os gêmeos nascem, e entre as idades de 2 e 4 começam a fabricar declarações sobre seus irmãos mortos.
 
Como o pai acreditava que os gêmeos eram reencarnações de suas irmãs mortas, é possível que falasse sobre isso na frente das meninas quando bebês. É também possível que os amigos e a família falassem sobre a morte trágica das duas meninas prévias. Apenas surpreende que as meninas sejam informadas ter conversado sobre suas “vidas prévias”. Os pais também podiam estar interpretando demais as declarações dos gêmeos, ou podiam estar mentindo. Nós nunca saberemos.
 
Michael Wright
 
Uma jovem menina tem um namorado de infância que morre numa batida de carro. Ela teria casado-se come le mas por causa disto, casou-se com outra pessoa. Ela então tem uma criança que ela pensa ser a reencarnação de seu namorado. (Sonhou com ele um ano depois da sua morte, o que Stevenson chama como um “sonho anunciador”.) A mãe da criança e a avó fortemente acreditam em reencarnação, e elas são as únicas que testemunharam a criança “lembrar-se” da sua vida prévia.
 
Isto conta-nos mais sobre o desejo da mulher para com o rapaz morto, e seu relacionamento com seu marido real, do que sobre reencarnação. O que é mais importante, também diz-nos muito sobre a credulidade de Stevenson. Uma colega sua, a Dra Emily Kelly, aparentemente concorda comigo aqui. A crédito de Stevenson ele cita a opinião dele:
 
“Pensa-o bastante plausível que algum motivo mais benigno, tal como nostalgia ou um desejo por um amor do passado, pode ter levado (a mãe) a encorajar sua identificação do filho com (o namorado) e ter extraído mais das suas declarações que se podia” Sem brincadeira! A frase “pode ter”, indica isto não é prova de reencarnação.
 
Hanumant Saxena
 
Uma mulher indiana sonhou que um homem recentemente morto da sua aldeia apareceu a ela e disse, “venho a você”. A mulher deu à luz uma criança que teve uma marca de nascimento coerente com onde este homem tinha sido tiro morto. Muitos dos aldeãos começaram a dizer que a criança era o homem baleado renascido “antes mesmo (da criança) ter começado a falar sobre a vida (do homem morto)”. Presumivelmente os pais da criança falaram dele demais, embora isso não seja registrado no livro.
 
Ilusão outra vez: A criança provavelmente ouviu as pessoas conversando sobre sua “vida prévia”, (outra vez). Stevenson conclui dizendo:
 
“Um cético diria que seus pais… impuseram esta identificação nela. Ache esta soma combinada de interpretações pesada e não satisfatória, mas eu não posso negar que têm uma certa plausibilidade.” Outra vez, se essa explicação é “plausível”, isto não é prova de reencarnação.
 
Casos resolvidos sem nenhum contato
 
Então vamos aos dois casos resolvidos onde as duas famílias não tiveram nenhum contato. O primeiro, na Índia, Gopal Gupta de dois anos de idade começa a lembrar-se de detalhes da sua vida prévia numa aldeia próxima. Os detalhes incluem a criança comportando-se como se fosse de uma casta mais alta que a da sua família atual. Ele também (mais tarde), sabe de detalhes de como um sócio de negócios tinha sido baleado até a morte, de outra família e de detalhes do negócio que mais tarde foram confirmados pela outra família.
 
No segundo caso, um rapaz libanês, Suleyman Andary, começou a sonhar com uma vida prévia. Alguns exemplos aparentemente notáveis de comportamento começaram quando a criança tinha 11 anos, onde agia como um adulto, e lembrou de certos aspectos da sua vida prévia. Era capaz de dar nomes da maioria dos seus filhose outros aspectos de sua vida. No entanto, quando foi à aldeia real ele pareceu “tímido e inibido” e não reconheceu seus “filhos” nem as fotografias das pessoas em “sua família”.
 
Os problemas com estes dois casos
 
Tomados a valor nominal, estes casos inicialmente aparecem compelir. Tenho alguns problemas com eles entretanto, a saber:
 
ª São anedotas. No primeiro, Stevenson não participou até que a criança tivesse 13 e no segundo a criança tivesse 14 (11 e anos depois da primeira “lembrança” no primeiro caso, desconhecido no segundo mas provavelmente sete ou oito anos depois). Praticamente tudo já havia sido observado (por outros), pelo tempo que Stevenson chega em cena e então aí há muito alcance para invenção, interpretação errônea, exagero e realce das histórias. Nós somente não sabemos o que realmente aconteceu e nunca vamos saber.

b. Ambos ocorrem em comunidades que acreditam em reencarnação, e onde o pensamento crítico (devemos dizer), não é colocado em primeiro lugar. O alcance para auto-ilusãoo é alto.
 
c. Suleyman Andary só começou com suas fortes memórias de vidas prévias quando tinha 11 anos de idade. Em todos os outros casos (e acredito que na maioria dos casos estudados de Stevenson ) a criança lembra-se de coisas de ao redor de dois anos velho mas os esquece por volta dos 11. Isto não desmente reencarnação, mas é estranho que dos únicos dois casos fortes no livro contradizem a tendência. Torna possível que haja outra solução, em minha visão.
 
d. A comunidade libanesa drusa de Suleyman Andary acredita que quando você morre renasce no mesmo instante- seu espírito não paira no limbo nem mesmo um dia. No entanto, sua pessoa prévia morreu 12 anos antes dele “renascer”. Como explicaram isto? A criança disse que ela reencarnou numa vida intermediária nos14 anos perdidos, embora ele convenientemente anão possa contar-nos nada sobre esta vida. Então é espeado que acreditemos que ele não pode lembrar-se de uma vida prévia, mas pode lembrar-se de antes da vida prévia. Não muito convincente. Uma solução mais prosaica é que ele de algum modo soube sobre a vida do rapaz que morreu 12 anos antes dele nascer, e teve que inventar a reencarnação intermediária para fazer isto se encaixar.
 
e. Gopal Gupta teve uma vida intermediária também - em Londres, na Inglaterra. Mesmo Stevenson conclui que isto é “ao menos em parte uma fantasia”, mas ainda aceita os detalhes da vida prévia muito melhor lembrados antes desta “fantasia”. Por que?
 
f. Em 13 dos 14 casos a vida prévia vivia na mesma comunidade que a da vida atual. Um indiano lembra-se da vida prévia como um indiano, etc. Embora isto não desminta reencarnação, eu acho estranho que o mundo espiritual só permita às almas retornarem à mesma área geográfica asperamente (embora às vezes numa casta mais baixa). Na minha visão isto mostra que alguma outra força mais provável está atuando. Eu ficaria mais impressionado se uma criança (digamos) numa remota aldeia indiana lembra-se de detalhes de sua vida anterior como (digamos) um rapaz surfista na Califórnia, com tudo que isso implicaria. E por que tanto na mesma família? Parece um pouco demais conveniente.
 
A exceção foi a menina burmesa que lembra-se da vida como um soldado japonês. Este foi um caso não resolvido entretanto, e não muito convincente de nenhum jeito em minha visão.
 
Conclusão
 
Claramente estes casos não podem ser desmentidos. Mas aplicando a Navalha de Occam eu acredito que haja soluções mais prosaicas que a reencarnação, especialmente quando considera-se o aparente sistema de crença de Stevenson.
 
Comentário: Esta trata-se de uma crítica a um livro do Stevenson que contém diversas omissões (resumos) especialmente por se destinar ao público em geral (leigos). Conseqüentemente, os casos perdem bastante de sua força, o que facilitou o ataque do crítico. Material mais completo e de melhor qualidade encontra-se no livro Twenty Cases Suggestive of Reincarnation (1966-1974) e em alguns dos melhores artigos dele mais recentes, como o Three New Cases of the Reincarnation Type in Sri Lanka With Written Records Made Before Verifications (1988). A respeito do livro Twenty Cases, Lester S. King, o Redator de Revisão de Livro da JAMA: The Journal of the American Medical Association, escreveu que “a respeito da reencarnação [Stevenson] tem esmerada e impassivelmente colecionado uma série detalhada de casos da Índia, casos em que a evidência é difícil de explicar em qualquer outra base.” Ele também adicionou, “Ele registrou uma quantidade grande de dados que não pode ser ignorada.” Uma crítica mais recente (2005) e extremamente positiva de um dos livros de Stevenson, “Casos Europeus do Tipo Reencarnação”, saiu no American Journal of Psychiatry, uma revista pertencente ao mainstream científico teve em 2005 um Impact Factor de 8.286. A crítica original (em inglês) encontra-se disponível online de forma gratuita em http://ajp.psychiatryonline.org/cgi/content/full/162/4/823 e em português também online em http://br.geocities.com/existem_espiritos/revisao_casos_europeus.
 
(Tradução e Nota de Vitor Moura Visoni)

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