quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Dois Casos do Tipo Reencarnação Com Registros Escritos Feitos Antes da Verificação

por Ian Stevenson, 2004

Em um caso normal do tipo reencarnação a criança importuna seus pais para levá-la à família com quem ela alega ter vivido uma vida anterior. Se a criança dá detalhes suficientes a seus pais sobre a família e a aldeia ou cidade que permitam sua identificação, eles normalmente levam-na lá ou para agradá-la ou para satisfazer a própria curiosidade. Depois que as duas famílias se encontraram e as alegações da criança foram justificadas o caso chama a atenção de pessoas fora das famílias em questão, freqüentemente através de reportagens de jornais. Quando os investigadores chegam para estudar o caso, as duas famílias podem ter misturado suas memórias e talvez inconscientemente atribuído ao indivíduo mais declarações corretas sobre a vida prévia do que ele realmente fez antes deles se encontrarem. Esta objeção não pode resistir quando um registro escrito das declarações da criança é feito antes de qualquer tentativa de verificação. Os casos deste tipo são extremamente raros por causa da tendência mencionada dos pais da criança de levá-la ao lugar que ela mencionou e sua comum falta de percepção da importância de registros escritos anteriormente. Não obstante, há cerca de uma dúzia de casos deste tipo raro registrados. Dois (os casos de Swarnlata Mishra e Imad Elawar) foram publicados em meu primeiro livro de relatórios dos casos, Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação Os seguintes dois casos se somam ao pequeno mas crescente número de casos neste grupo. Ambos destes valiosos casos ocorreram no Sri Lanka (Ceilão) em anos recentes.

No primeiro caso o indivíduo, Indika Guneratne, era o filho de um cultivador de poucos pertences, vivendo numa aldeia, Gonapola, aproximadamente a trinta quilômetros de Colombo. Ele nasceu em 26 de Julho,1962.Com cerca de três anos e meio de idade Indika começou a falar sobre uma vida anterior que ele tinha vivido em Matara, um povoado grande ao sul do Sri Lanka (no litoral) e aproximadamente a duzentos quilômetros de Colombo. Indika disse que na vida prévia ele lembrou-se de que tinha sido bem sucedido, teve uma casa grande, possuía bens, e teve elefantes. Ele ainda afirmou ou implicou que tinha tido um carro e que sua casa tinha eletricidade e telefone. Sua família não tinha nenhum destes prazeres. Ao todo Indika declarou aproximadamente trinta detalhes concernentes à vida e circunstâncias da pessoa que ele alegou ter sido. Ele não fez, no entanto, menção a quaisquer nomes das pessoas ou outros locais além da cidade, Matara, onde disse que tinha vivido e o nome de uma pessoa, Premadasa, que, do modo com que Indika falou sobre ele, parecia um servente. Esta falta de nomes próprios nas declarações do indivíduo e a grande distância entre Gonapola e Matara impediram seu pai de tentar verificar em Matara o que Indika dizia. O pai de Indika soube de pessoas que conheciam algo sobre Matara acerca de um homem morto que parecia corresponder às declarações de Indika, mas ele não tinha verificado as declarações em detalhe nem levou Indika a Matara. Eu primeiramente soube sobre o caso no início de 1968 e comecei sua investigação em março desse ano. Eu fiz um registro escrito de todas as declarações de Indika sobre a vida prévia assim como sobre alguns comportamentos incomuns os quais ele mostrou e que batiam com sua alegação de ter sido um homem bem sucedido nessa vida. Eu então consegui levar Indika e seu pai a Matara onde inquirimos sobre homens bem sucedidos cujas vidas poderiam corresponder com as declarações de Indika.

Desde que Indika tinha mencionado possuir elefantes e desde que só algumas pessoas bem sucedidas possuem elefantes no Ceilão, a procura foi confinada a proprietários privados de elefantes em Matara. Todas a não ser duas de trinta declarações de Indika se aplicavam a um comerciante bem sucedido de madeira de Matara chamado K. G. J. Weera-singhe. Tinha possuído elefantes e teve uma casa grande com eletricidade e um telefone. Ele teve um servente, Premadasa. A descrição de seu caráter obtida de dois de seus sobrinhos e de sua filha adotiva bateram bem com o comportamento incomum de Indika que parecia relacionado com as suas memórias da vida anterior. Apesar da concordância das declarações e comportamento de Indika com o que se soube sobre K.G. J. Weerasinghe, as vidas e circunstâncias de outros proprietários de elefantes em Matara foram examinadas num esforço para ver se quaisquer de suas vidas correspondiam com as declarações de Indika do mesmo modo ou melhor que a vida de K.G.J.Weerasinghe. Descobriu-se que quatorze das declarações de Indika também se aplicavam corretamente à vida e às circunstâncias de outro homem bem sucedido de Matara (que tinha possuído elefantes), mas o restante não. Este homem também não teve nenhum servo chamado Premadasa. As declarações de Indika também não corresponderam com as circunstâncias dos vários outros proprietários de elefante conhecidos na área de Matara. Concluiu-se que se referia à vida de K.G. J.Weerasinghe e a ninguém mais. A família de Indika tinha atravessado Matara em várias ocasiões, mas eles não tinham nenhum amigo ou parente aí e em nenhuma ocasião tinham parado aí. (Matara está no caminho de Colombo a Kataragama, um lugar bem conhecido de peregrinação.) Extensos inquéritos não conseguiram revelar qualquer evidência de que as duas famílias tinham tido qualquer conhecimento uma com a outra antes do desenvolvimento do caso.

O indivíduo do segundo caso, Sujith Lakmal , nasceu em Mt. Lavinia, um subúrbio de Colombo, no dia 7 de agosto de 1969. Quando estava com cerca de dois anos e meio de idade começou a falar sobre uma vida prévia que ele disse que tinha vivido em Gorakana, um povoado a aproximadamente doze quilômetros ao sul de Mt. Lavinia. Sujith narrou vários detalhes da vida prévia que ele alegou lembrar-se incluindo um número considerável de nomes próprios, p.ex. ele alegou ter tido um pai, chamado Jamis e ter conhecido um monge, Amita. Ele incluiu em suas declarações alguns detalhes bastante específicos tais como que Jamis tinha tido um olho direito ruim. Ele também descreveu como, na vida prévia, ele foi atropelado e morto por um caminhão quando estava bêbado. O tio-avô por parte de mãe de Sujith, que era um monge num templo próximo, ouviu sobre suas declarações e as mencionou a um monge mais jovem do templo. Este monge, o Ven.WatarapoUa Nandaratana, então encontrou Sujith, sua mãe, e sua avó materna e fez um registro escrito datado do que Sujith dizia. O Ven. Nandaratana de WatarapoUa então foi a Gorakana e, com alguma dificuldade, eventualmente localizou uma família correspondente às declarações de Sujith. Um membro desta família, Sammy Fernando, foi morto em 29 de janeiro de1969, quando foi atingido por um caminhão enquanto ele (estando bêbado) pisou para fora de uma loja sobre a rodovia. Seu pai, Jamis, tinha tido um olho direito doente. Quase todas as outras declarações feitas por Sujith estavam corretas para a vida e circunstâncias de Sammy Fernando.

Em março de 1973 investiguei o caso com entrevistas dos membros de ambas as famílias relacionadas e também com o Ven. WatarapoUa Nandaratana concernente a suas entrevistas e os registros que ele tinha feito enquanto as conduzia. As pesquisas não mostraram nenhuma evidência de que as duas famílias em questão tinham tido qualquer envolvimento antes do desenvolvimento do caso. Apenas os casos deste tipo podem ser considerados com alto valor evidencial, e esforços especiais estão estando feitos agora para aumentar seu número. É esperado que se um número maior deles puder ser achado, uma comparação útil pode ser feita entre suas características e as dos casos mais numerosos em que as duas famílias se encontraram antes da investigação começar. Se então ocorrer que os casos com registros escritos feitos antes de verificação têm em essência as mesmas características daqueles em que as duas famílias relacionadas se encontram antes de uma investigação, esta observação fortalecerá a confiança na autenticidade desses casos em que os investigadores vêm ao caso só depois que as famílias se encontraram. Por outro lado, caso se descubra que o caso do último tipo freqüentemente contém características não encontradas naqueles com registros escritos feitos antes da verificação isto sugerirá alguma deformidade ou enfeite destes casos resultante talvez de uma mistura de memórias do que o indivíduo realmente disse antes da verificação e dos detalhes da vida da personalidade prévia identificada.

Artigo publicado na Research in Parapsychology de 1973.

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